Tem lugares no mundo que a gente entende logo de cara. Marrakech, no entanto, não é um desses. A cidade marroquina é daquelas que nos recebem com um tapa na cara — não de violência, claro, mas de sensações. Barulho, cheiros, cores, calor, gente falando alto, motos passando por vielas que mal cabem um carrinho de feira… tudo ao mesmo tempo agora.
E é justamente esse caos orquestrado que faz de Marrakech um destino tão marcante. É como se a cidade dissesse: “Esqueça tudo o que você conhece sobre organização e venha viver uma experiência sensorial completa”. A boa notícia? Depois do susto inicial, a gente começa a perceber a beleza no meio da bagunça. E quando percebe… já era! Você está completamente envolvido.
É difícil não se encantar com uma cidade onde o passado e o presente andam lado a lado — às vezes se trombam, brigam, mas seguem juntos. Palácios centenários dividem espaço com cafés moderninhos; mercados tradicionais convivem com lojas conceituais. Marrakech é contraditória e cativante. Uma cidade que exige entrega, jogo de cintura e disposição para o novo.

Então, se você está planejando uma viagem ao Marrocos e quer saber o que fazer em Marrakech, vem comigo. Neste guia, vou te mostrar as atrações imperdíveis, os segredos bem guardados e também aquelas dicas práticas que ninguém te conta — mas que fazem toda a diferença. Afinal, Marrakech não é um lugar para se visitar, é um lugar para se viver. E, quem sabe, se apaixonar (mesmo que de forma meio turbulenta).
Tabela de conteúdos
- O que fazer em Marrakech?
- Se perder na Medina (e gostar disso)
- Onde se hospedar em Marrakech: entre o caos da medina e o conforto do riad
- Jemaa el-Fna: o teatro ao ar livre mais insano do mundo
- Palácios, Túmulos e Madraças: mergulho na arte e na história de Marrakech
- Jardins e respiros: Majorelle, Menara e outras pausas verdes
- Sabores de Marrakech: tajines, couscous e um chá à moda berbere
- O que fazer nos arredores de Marrakech: montanhas, vilarejos e o deserto mais incrível do Marrocos
O que fazer em Marrakech?
Marrakech é uma cidade que mistura tradição e caos com uma intensidade única, e montar um roteiro por lá é equilibrar experiências sensoriais, históricas e culturais. Entre perder-se nas ruelas da medina, visitar palácios suntuosos, descansar em jardins escondidos e provar sabores exóticos, não faltam atividades para ocupar bem seus dias. A seguir, compartilho as principais atrações da cidade — e também dicas práticas, baseadas na minha própria experiência, para você aproveitar ao máximo tudo o que Marrakech tem a oferecer.
Marrakech ou Marraquexe?
Se você está em dúvida sobre a grafia correta, saiba que as duas formas estão certas. Marrakech é a forma internacional, usada em francês e inglês — e acabou se popularizando também entre os viajantes. Já Marraquexe é a versão oficial em português, reconhecida pelos dicionários e usada em contextos mais formais. No entanto, mesmo em textos escritos em português, é muito mais comum encontrar a grafia Marrakech, especialmente em blogs de viagem, roteiros turísticos e redes sociais.
Se perder na Medina (e gostar disso)
Imagine um labirinto sem Minotauro, mas cheio de vendedores chamando você em cinco idiomas, motos buzinando e ruas que mais parecem vielas de filme medieval. Essa é a Medina de Marrakech, o coração pulsante da cidade — e talvez o lugar onde você vai mais se perder… e se divertir com isso.

A Medina é a parte antiga da cidade, cercada por muralhas, fundada no século 11. São dezenas de ruazinhas estreitas que se entrelaçam como um novelo, e embora pareçam não seguir lógica nenhuma, elas escondem preciosidades. Mas aqui vai um alívio para quem, como eu, não gosta de se sentir desorientado: o GPS até que se sai bem em Marrakech. Ele pode se confundir em alguns trechos mais apertados, principalmente nos becos menos movimentados, mas no geral, ele costuma funcionar direitinho e te salva de dar voltas desnecessárias. Bem diferente da medina de Fez, onde o GPS praticamente entra em colapso e você tem que contar com a sorte.
Entre as ruelas da medina de Marrakech, a gente encontra de tudo: lojinhas turísticas vendendo lanternas, tapetes e pufes de couro, mas também áreas de produção artesanal com trabalho em couro, metal, madeira e tecidos — tudo feito ali mesmo, na sua frente. E engana-se quem pensa que é um espaço só para turistas: os próprios moradores fazem compras por lá. Dá pra ver barracas de frutas, legumes, açougues (com cabeças de carneiro expostas!), lojas de roupas, tênis “Nike” duvidosos e até eletrônicos. Essa mistura entre o exótico e o cotidiano é o que dá personalidade à medina: um lugar onde se compra desde temperos raros até sabão em pó — tudo no mesmo corredor.
Minha dica? Vá com tempo e sem pressa. Não adianta montar um roteiro super engessado na Medina. O melhor é explorar com o espírito aberto, aceitar os desvios e deixar que a cidade te mostre o caminho — mesmo que ele dê voltas antes de te levar a algum lugar. E uma dica de ouro para se deslocar com mais segurança: nunca ande no meio da rua. Apesar de teoricamente as vielas da medina serem exclusivas para pedestres, na prática há um fluxo constante (e muitas vezes caótico) de motos, que passam em alta velocidade e surgem do nada. Ande sempre pelo cantinho, quase encostado nas paredes — é chato, sim, mas é a melhor forma de evitar sustos.

E se bater o cansaço, pare em um terraço, peça um chá de menta com muito açúcar e observe o caos lá de cima. Marrakech vista do alto é como uma coreografia caótica… mas hipnotizante.
Onde se hospedar em Marrakech: entre o caos da medina e o conforto do riad
Escolher onde ficar em Marrakech é quase tão importante quanto decidir o que visitar. A cidade é intensa, barulhenta e cheia de contrastes — por isso, o lugar onde você vai descansar depois de um dia de caminhada faz toda a diferença na experiência. E, para começar, vale entender que Marrakech é dividida, basicamente, em duas grandes áreas: a Medina (a cidade antiga, cercada por muralhas) e a Ville Nouvelle (a cidade nova, moderna e mais organizada).
Medina

Se você quer viver Marrakech como ela realmente é — com cheiros, sons e surpresas a cada esquina — a medina é o seu lugar. É ali que estão os famosos riads, que são construções tradicionais marroquinas com pátio interno, geralmente cheios de plantas, fontes e azulejos coloridos. Do lado de fora, eles parecem casas simples em ruas estreitas. Mas basta atravessar a porta para encontrar um verdadeiro oásis de tranquilidade, longe do caos das ruas.
Os riads são, ao mesmo tempo, hospedagem e experiência. Muitos têm poucos quartos, o que garante um atendimento mais personalizado, além de bons cafés da manhã servidos no terraço ou no pátio. Se puder, escolha um com piscina ou hamman — faz toda a diferença depois de um dia caminhando sob o sol marroquino.
Abaixo, deixo algumas sugestões de hospedagem para diferentes bolsos na parte histórica:
🟢 Hotéis Econômicos:
Riad N10
Esse riad com quartos compactos possui ótimos valores e tem sua principal vantagem a proximidade com a Praça Jemaa el-Fna. Veja fotos e valores de diárias.
Riad M’boja “Chez Ali Baba”
Riad com decoração tradicional, ele possui diferentes tipos de quartos e boa avaliação. Veja fotos e valores de diárias.
🟡 Hotéis Intermediários
Riad Anais
Esse foi o Riad que me hospedei, os quartos são confortáveis e espaçosos e o atendimento foi incrível. Veja fotos e valores de diárias.
Riad De Vinci & Spa
Com spa interno, decoração tradicional e terraço com piscina, é uma ótima escolha para quem quer opção com lazer. Veja fotos e valores de diárias.
🔴 Hotéis Sofisticados
Riad Magie Boutique Hotel
Esse Riad se diferencia dos demais por ter uma decoração moderna, além de contar com piscina no terraço. Veja fotos e valores de diárias.
Pure House Marrakech
Uma mistura de tradição com modernidade, essa pousada é muito charmosa e bonita e conta com piscina. Veja fotos e valores de diárias.
Ville Nouvelle

Se você prefere uma área mais moderna, com ruas largas, supermercados, restaurantes internacionais e hotéis mais convencionais, talvez a Ville Nouvelle seja a melhor escolha. Bairros como Guéliz e Hivernage são os mais conhecidos, com boas opções de hospedagem, incluindo grandes redes internacionais. Lá, você escapa do barulho da medina — e também da magia caótica dela. Tudo depende do seu estilo.
Abaixo, deixo algumas sugestões de hospedagem na Ville Nouvelle:
🟢 Econômico:
Hotel Toulousain – localizado em Gueliz, o hotel possui piscina e restaurante. Veja fotos e valores de diárias.
🟡 Intermediário:
Stars Hotel & Spa – com duas piscinas, uma aberta e outra coberta, o hotel conta com spa e bom café da manhã. Veja fotos e valores de diárias.
🔴 Luxo:
Dar Rhizlane, Palais Table d’hôtes & SPA – para quem busca luxo e sofisticação e quer ficar, relativamente próximo da medina, o Dar Rhizlane é uma ótima opção. Veja fotos e valores de diárias.
Jemaa el-Fna: o teatro ao ar livre mais insano do mundo
Se Marrakech tivesse um coração — daqueles que batem alto e sem descanso — ele se chamaria Jemaa el-Fna. Essa é a praça central da cidade, o ponto de encontro de tudo e todos. E não é exagero: a Jemaa el-Fna é patrimônio oral e imaterial da humanidade pela Unesco, justamente porque ali pulsa uma tradição viva, transmitida de geração em geração, que desafia o tempo e a lógica turística.

Durante o dia, a praça é uma mistura de curiosidade e estranheza. Cobras, sim, cobras mesmo — com “encantadores” que tocam flautas e tentam convencer você a tirar uma foto com elas (cuidado: isso pode custar mais do que parece!). Tem também macacos com coleiras, que são usados por alguns para entretenimento — o que, sinceramente, dá bastante dó. Além disso, ambulantes oferecem de tudo: água, chapéus e desenhos de henna nas mãos, muito comuns no marrocos.
Mas é quando o sol começa a se esconder que a Jemaa el-Fna se transforma. A partir do fim da tarde, a praça ganha vida de verdade. Aparecem grupos musicais tocando instrumentos tradicionais, contadores de histórias, artistas de rua, cartomantes… É uma espécie de teatro coletivo a céu aberto. O curioso é que os grupos musicais ficam muito próximos, um dos outros, fazendo com que a música até se misture.
Enquanto de dia o que mais chama atenção na Jemaa el-Fna são as barracas de suco, à noite é a vez das barraquinhas de comida dominarem a cena. São dezenas de vendedores lado a lado, servindo suco de laranja fresquinho por preços tentadores, e mais tarde, pratos típicos como espetinhos, tajines, harira (sopa), cabeça de carneiro e até caracóis cozidos (!). A fumacinha subindo, o cheiro das especiarias e a movimentação constante dão à praça um clima vibrante e quase hipnótico. Mas, como o Marrocos é um país que ainda enfrenta problemas com higiene, eu optei por não me arriscar a comer ali, apesar de algumas comidas parecerem bem apetitosas.

Uma dica que faz toda a diferença: suba ao terraço de um dos cafés ao redor da praça. De lá de cima, a vista é espetacular. Você vê a movimentação frenética das pessoas, ouve os sons misturados dos músicos e das vozes, e ainda consegue dar uma pausa no meio do caos com um chá de menta ou um café com especiarias.
Palácios, Túmulos e Madraças: mergulho na arte e na história de Marrakech
Marrakech pode ser caótica e barulhenta do lado de fora, mas por trás de muros discretos e portões de madeira entalhada, esconde-se um outro universo — sereno, detalhado e artisticamente deslumbrante. A cidade guarda verdadeiras joias da arquitetura islâmica e da história marroquina, em palácios, túmulos e antigas escolas religiosas que impressionam tanto pela grandiosidade quanto pelo refinamento dos detalhes. Visitar esses espaços é mergulhar em séculos de cultura, arte e poder, e entender como Marrakech foi, por muito tempo, um dos centros mais importantes do mundo islâmico no norte da África.
Palácio da Bahia

O palácio mais visitados é o Palácio da Bahia, construído no século XIX e que impressiona pelos pátios amplos, mosaicos coloridos e tetos de madeira entalhada. Dá para passar bastante tempo admirando os detalhes, imaginando como era a vida da elite marroquina em tempos passados. Por ser tão popular, o palácio costuma ficar bem cheio, especialmente entre o fim da manhã e o início da tarde, então vale a pena tentar chegar cedo — assim você aprecia com mais calma (e com menos gente na frente da sua câmera).

Palácio El Badi

Já o Palácio El Badi é o oposto: está em ruínas, passando por reformas e não é muito visitado, mas carrega grande imponência. Caminhar entre seus muros altos e imaginar como ele foi grandioso é um exercício de imaginação.
Túmulos Saadianos

E não dá para deixar de fora os Túmulos Saadianos, uma joia escondida atrás de muros altos que, por séculos, ficou esquecida. Redescobertos apenas no início do século XX, os túmulos abrigam os restos mortais da dinastia Saadiana, que governou o Marrocos no século XVI. O lugar impressiona pela riqueza dos detalhes — colunas de mármore e mosaicos zellige. É uma visita curta, mas muito impactante, tanto pela beleza quanto pela atmosfera solene do espaço.
Madraça Ben Youssef

Outro lugar que merece destaque é a Madraça Ben Youssef, uma antiga escola corânica que é, sem exagero, um dos lugares mais bonitos de Marrakech. O prédio, que passou por uma restauração recente, é uma verdadeira obra-prima da arquitetura islâmica: pátio central com espelho d’água, paredes revestidas de estuques e azulejos geométricos, e salas que mostram como era a vida dos estudantes que ali viviam e estudavam o Alcorão.
Caminhar por seus corredores é como entrar em um templo da estética — cada detalhe parece ter sido pensado para inspirar. Assim como o Palácio da Bahia, a madraça costuma ficar bem cheia, então a dica é a mesma: chegue cedo, logo na abertura, ou deixe para o final do dia, quando o movimento diminui e a luz do sol desenha sombras lindas sobre os arcos e mosaicos.
Museus de Marrakech: arte, história e fotografia entre pátios e azulejos
Além dos palácios e madraças, Marrakech também abriga museus que ajudam a entender melhor a cultura marroquina sob diferentes perspectivas — seja pela arte tradicional, pela música ou pela fotografia. Eles não costumam ser grandes, mas cada um tem seu charme e oferece uma pausa interessante no roteiro pela cidade.
Museu de Marrakech

O Museu de Marrakech, instalado em um antigo palácio restaurado, é uma boa porta de entrada. Sua arquitetura é o grande destaque: um pátio central lindíssimo, com uma fonte, lustres gigantes e detalhes em zellige que rendem ótimas fotos. O acervo mistura arte tradicional marroquina com peças contemporâneas e exposições temporárias. Vale a visita, especialmente se você já estiver explorando a região próxima à madraça Ben Youssef.
Casa da Fotografia de Marrakech

Já a Casa da Fotografia de Marrakech é um museu mais voltado para quem tem interesse específico na arte fotográfica. O espaço é pequeno, distribuído em três andares, e abriga uma coleção de imagens históricas que retratam o Marrocos da primeira metade do século XX.
Eu gostei bastante da visita — mas confesso que isso tem muito a ver com o fato de eu ser fotógrafo. Para quem curte história visual e tem curiosidade em ver o país retratado por lentes antigas, é uma parada bem interessante. No terraço, ainda há um café com vista para os telhados da medina.
Museu da Música

Com o mesmo ingresso da Casa da Fotografia, você pode visitar também o Museu da Música. Apesar de pequeno, o museu é muito bem montado e me surpreendeu. Ele exibe instrumentos musicais típicos africanos, não apenas do Marrocos, e apresenta representações visuais e sonoras das tradições musicais do continente. É uma visita curta, mas enriquecedora, principalmente para quem gosta de música e quer conhecer um pouco mais da diversidade cultural africana além do que se ouve nas ruas.
Jardins e respiros: Majorelle, Menara e outras pausas verdes
Depois de algumas horas caminhando na medina, com buzinas estourando nos ouvidos, vendedores disputando sua atenção e uma avalanche de estímulos visuais e sonoros, uma coisa fica clara: Marrakech exige pausas estratégicas. E felizmente, a cidade oferece alguns oásis perfeitos para isso — lugares onde o tempo desacelera, o barulho desaparece e o verde toma conta. São os jardins, espaços que funcionam quase como válvulas de escape dentro do ritmo alucinante da cidade.
Jardim Majorelle

O mais famoso de todos é o Jardim Majorelle, um verdadeiro refúgio botânico que parece saído de um quadro. Criado pelo pintor francês Jacques Majorelle e mais tarde comprado e restaurado por Yves Saint Laurent, o espaço mistura plantas exóticas de diferentes continentes com cores vibrantes, especialmente o azul intenso que virou marca registrada do lugar. Caminhar por ali é uma experiência sensorial: o som da água correndo, o contraste das cores, o frescor na sombra das palmeiras… Tudo convida à contemplação.
Não por acaso, esse é também o lugar mais instagramável de Marrakech, é um prato cheio para quem gosta de fotografia. O jardim é bem concorrido e há limite de entrada por turno (de 30 minutos), por isso é indicado comprar ingresso com antecedência, acesse o site oficial.
Jardim Menara

Já o Jardim Menara oferece uma experiência bem diferente. Aqui, o cenário é mais amplo e silencioso, com um grande espelho d’água rodeado por oliveiras centenárias e, ao fundo, a vista das montanhas do Atlas (em dias claros, o visual é espetacular). É um lugar menos turístico e mais frequentado por moradores locais.
Jardim Secreto

Outro espaço turístico — e bem mais central — é o Jardim Secreto (Le Jardin Secret), escondido no meio da medina, a poucos minutos da Jemaa el-Fna. Apesar do nome, ele está longe de ser apenas um segredo turístico: o jardim é uma reconstrução belíssima de um antigo palácio do século XIX, com áreas verdes bem cuidadas, fontes, arquitetura islâmica refinada e um minarete que pode ser visitado com vista panorâmica da cidade.
Sabores de Marrakech: tajines, couscous e um chá à moda berbere
Viajar pelo Marrocos é também uma aventura para o paladar — uma chance de explorar sabores intensos, combinações inusitadas e aromas que nos acompanham mesmo depois da refeição. A culinária marroquina é rica, perfumada, cheia de especiarias… e, diferente do que muitos pensam, não é tão barata assim. Em comparação com países vizinhos — ou até mesmo com o Brasil —, comer em Marrakech pode sair caro. Falo por experiência própria: na minha primeira visita ao Marrocos, tudo parecia incrivelmente acessível, inclusive a comida. Já desta vez, tive a sensação de que os preços — tanto da alimentação quanto da hospedagem — estavam inflacionados, especialmente na área turística da cidade. Prepare-se para comer bem, sim, mas sem esperar economia em cada refeição.
Tajine, couscous e outras delícias marroquinas
O prato mais emblemático do país é o tajine, que também dá nome à panela de barro com tampa cônica onde ele é cozido lentamente. O método concentra os sabores e o aroma das especiarias, resultando em um prato encorpado e cheio de personalidade. Pode vir com frango, cordeiro, carne bovina ou apenas legumes, geralmente acompanhado de frutas secas, nozes ou azeitonas. Mas atenção: não espere arroz ou salada. O tajine costuma ser servido apenas com pão marroquino, e se você come bem, talvez um prato sozinho não seja suficiente.

Outro clássico é o couscous marroquino, tradicionalmente servido às sextas-feiras, mas facilmente encontrado nos cardápios todos os dias. Vem com legumes cozidos e carne sobre uma cama de sêmola, e diferente do tajine, costuma ser mais farto — é um prato pensado para partilhar.

Agora, se quiser ousar um pouco mais, experimente a pastilla: uma torta folhada com recheio de frango, amêndoas, especiarias, açúcar e canela. É um prato tradicional e muito elogiado, mas… confesso que não caiu bem no meu paladar. Essa mistura doce-salgada me pareceu exótica até demais, mas vale provar para tirar a própria conclusão.
O chá de menta: mais que uma bebida, um ritual
Se o Marrocos tivesse que ser representado por uma única bebida, seria o chá de menta com açúcar. Presente em todas as refeições — e também fora delas —, o chá é mais do que refrescante: ele é símbolo de hospitalidade. Derramado de uma certa altura, para criar espuma no copo, o gesto de servir chá é quase cerimonial. Recusar um chá no Marrocos é como recusar uma conversa. Eu aceitei todos os convites e tomei tanto chá que, quando voltei ao Brasil, confesso que senti falta. Ele virou parte da minha rotina durante a viagem — e um pequeno ritual de pausa no meio do dia.

Jantares com espetáculo: música, dança e fantasia marroquina
Marrakech também sabe como transformar o jantar em entretenimento. Diversos restaurantes oferecem jantares com apresentações ao vivo, incluindo música tradicional, dança do ventre, instrumentos típicos e até performances com tambores. É um verdadeiro show para acompanhar o tajine — ou talvez o contrário.
O mais famoso deles é o Chez Ali, um complexo nos arredores da cidade que oferece uma experiência completa ao estilo das Mil e Uma Noites. O programa inclui dançarinas, cavaleiros árabes em performances coreografadas e até acrobacias, tudo em um cenário que mistura fantasia e folclore. Não é uma experiência barata, mas o valor já inclui transporte de ida e volta desde o seu hotel, o que torna tudo mais prático. Veja os preços aqui.

O que fazer nos arredores de Marrakech: montanhas, vilarejos e o deserto mais incrível do Marrocos
Marrakech é fascinante, mas pode ser intensa demais se você passar muitos dias seguidos por lá. A boa notícia é que, nos arredores da cidade, há uma série de experiências que oferecem uma pausa do caos urbano — e, melhor ainda, revelam outras facetas do Marrocos, com paisagens grandiosas, vilarejos tradicionais e a natureza em sua forma mais crua.
Deserto de Agafay: o “semi-Saara” mais perto de Marrakech
Fica a apenas 40 km de Marrakech e, apesar de muitas agências o chamarem de “deserto”, é importante alinhar as expectativas: o Deserto de Agafay não é um deserto de areia, como o Saara, mas sim um deserto de pedras, com paisagem árida e montanhosa. Ainda assim, ele tem seu charme — especialmente ao pôr do sol, quando as cores do céu criam um cenário digno de foto.

Esse é, disparado, o passeio mais comum fora de Marrakech, justamente por ser perto, acessível e visualmente interessante. Há várias variações desse tour, mas o mais comum inclui um passeio de camelo, passeio de quadriciclo, jantar típico marroquino sob as estrelas com apresentações musicais ao vivo. Eu fiz esse passeio e achei que tem um bom custo-benefício, especialmente para quem nunca teve contato com paisagens desérticas. No entanto, para quem já foi ao deserto de Merzouga (como foi o meu caso), o cenário de Agafay pode parecer menos impressionante. Fica a sensação de “deserto de entrada”, uma versão mais prática, mas que não se compara em beleza à imensidão de dunas douradas do Saara.
Uma observação importante: durante o passeio, presenciei uma situação delicada — uma pessoa caiu do camelo porque a sela não estava bem presa. Foi um susto, e serviu de alerta. Por isso, tenha atenção onde contratar o tour. Se você pretende fazer esse passeio, eu indico ver as opções da Civitatis.
Vale do Ourika: um bate-volta rápido para ver cachoeiras e montanhas

A cerca de uma hora de Marrakech, o Vale do Ourika é uma das escapadas mais populares entre os turistas. Localizado nas encostas das Montanhas do Atlas, o vale oferece um cenário bem diferente da cidade: vegetação verde, rios correndo entre pedras e vilarejos berberes onde a vida segue em outro ritmo.
A trilha até as cachoeiras de Setti Fatma é o ponto alto do passeio, mas exige um pouco de preparo físico (e sapatos com boa aderência). É um passeio para quem vai ficar mais tempo em Marrakech e quer ver um lado mais rural do país. Veja aqui mais informações sobre o tour ao Vale do Ourika.
Tour de 3 dias até o deserto de Merzouga: a experiência mais marcante da viagem
Mas se você tiver tempo — e disposição para longas horas de estrada —, o tour de 3 dias até o deserto de Merzouga, no Saara, é simplesmente imperdível. Para mim, foi a parte mais incrível de toda a minha viagem de duas semanas pelo Marrocos. O percurso entre Marrakech e Merzouga é longo (são quase 600 km), mas o trajeto em si já é uma aventura: passamos pelo Alto Atlas, cruzamos paisagens cinematográficas, paramos em vilarejos berberes, visitamos o impressionante ksar de Ait Ben Haddou (patrimônio da humanidade e cenário de filmes como Gladiador e Game of Thrones) e seguimos rumo ao sul, atravessando o Vale do Draa, com seus oásis e palmeirais intermináveis.

Ao final do segundo dia, chegamos às dunas de Erg Chebbi, perto da vila de Merzouga. De lá, seguimos em um passeio de camelo até o acampamento no meio do deserto. Dormir sob um céu absurdamente estrelado, ouvir música berbere ao redor da fogueira e ver o nascer do sol entre as dunas foram momentos que me marcaram profundamente. Mesmo tendo enfrentado uma tempestade de areia enquanto estávamos na fogueira — que tornou tudo ainda mais cinematográfico —, posso dizer que vale cada minuto de estrada. E olha que não foram poucos.
Apesar de haver tours de 2 a 4 dias, o de 3 dias é o melhor, por isso a grande maioria dos turistas optam por fazer essa versão. Há o tour que vai e volta desde Marrakech (o mais popular) ou o que começa em Marrakech e termina em Fez e o contrário que começa em Fez e termina em Marrakech, esse último que fiz. Independente do local de inicio e fim, todos param nas mesmas atrações turísticas.
Gostou nas nossas dicas sobre o que fazer em Marrakech? Qual parte da cidade você achou mais ou menos interessante? Deixa seus relatos nos comentários.