InícioÁfricaMarrocosTour ao Deserto de Merzouga: como é conhecer o Saara no Marrocos

Tour ao Deserto de Merzouga: como é conhecer o Saara no Marrocos

Minha primeira vez no Saara foi no Egito — aquele clássico tour ao redor das pirâmides de Gizé, montado num camelo com cara de poucos amigos e um guia puxando as rédeas enquanto você tenta manter boas poses nas fotos. Foi divertido, mas breve. Uma daquelas experiências que deixam um gostinho de “quero mais”. Desde então, fiquei com a curiosidade de viver o Saara de verdade: passar a noite nas dunas, ver o céu estrelado sem nenhuma luz por perto, sentir a imensidão do deserto em silêncio.

Essa chance apareceu quando estive no Marrocos. Escolhi fazer o tão falado tour de três dias até o deserto de Merzouga, com início em Fez e fim em Marrakech — um roteiro que atravessa paisagens completamente diferentes: montanhas geladas, vilarejos berberes, palmeirais no meio do nada e, claro, as gigantescas dunas do Erg Chebbi. Já te adianto: foi o ponto alto da viagem. Teve camelo, sim, mas também teve acampamento confortável, chá de hortelã, tempestade de areia, música ao redor da fogueira e um céu tão estrelado que parecia coisa de outro mundo.

Neste texto, vou te contar como funciona esse tour: os tipos de passeio, as cidades de partida, os lugares onde se para pelo caminho, como é a noite no deserto e — o mais importante — tudo aquilo que ninguém te avisa, mas que você vai agradecer por saber. Bora descobrir o que o Saara marroquino tem de tão especial?

Onde fica Merzouga e como chegar

Se você olhar um mapa do Marrocos e descer o olhar em direção ao leste, quase na fronteira com a Argélia, vai encontrar Merzouga. Um vilarejo pequeno, seco, com aquele clima de “fim do mundo” — e é justamente isso que o torna especial. É ali, coladinho no deserto do Erg Chebbi, que as dunas começam a subir como ondas de areia dourada. Se o seu objetivo é ver o Saara como nos filmes, esse é o lugar.

mapa merzouga marrocos
Mapa do Marrocos com os caminhos para Merzouga

Merzouga está longe?

Sim, está. Não dá pra negar. Mas a beleza do caminho compensa — e muito. Merzouga fica a cerca de 560 km de Marrakech (cerca de 9 horas de estrada) e 470 km de Fez (umas 7 horas, dependendo do humor da estrada e das paradas). Parece puxado? É porque é mesmo. Mas não é uma viagem que você faz por obrigação: o caminho entre essas cidades e o deserto é recheado de paisagens incríveis, vilarejos com casinhas de barro, palmeirais inesperados, vales profundos e montanhas que, dependendo da época do ano, ainda estão com os picos nevados.

No meu caso, o tour começou em Fez e terminou em Marrakech, e posso dizer que essa travessia foi uma das partes mais interessantes da experiência. Em um único dia, saímos de uma cidade que estava com clima ameno, passamos pela gelada e charmosa Ifrane (também conhecida como a “Suíça marroquina”, com telhadinhos europeus e até pistas de esqui no inverno) e, algumas horas depois, estávamos suando embaixo do sol escaldante de Merzouga. Prepare-se para um verdadeiro choque térmico!

Como chegar até Merzouga

Você pode até tentar ir por conta própria, de carro alugado, mas os tours organizados são, sem dúvida, a forma mais prática e confortável de fazer essa jornada — especialmente se você quer aproveitar o caminho e não se preocupar com logística.

As opções mais comuns são:

excursão Merzouga
Nossa van do primeiro dia do tour rumo a Merzouga

Também existe a opção de chegar até lá com ônibus da Supratours, que vai direto de algumas cidades grandes até Merzouga, mas aí você teria que organizar tudo por conta própria: transporte até as dunas, acampamento. Além de algumas rotas saírem ou chegarem de madrugada. Dá pra fazer, claro, mas o combo do tour facilita bastante, principalmente para quem quer otimizar o tempo ou está em uma primeira viagem ao Marrocos.

Em resumo? Chegar até Merzouga exige um certo esforço — mas ele já começa a fazer parte da aventura. Porque no fundo, atravessar o Marrocos e ver a paisagem mudando aos poucos é uma das grandes graças desse passeio.

Por que Merzouga é o melhor portal para o Saara?

Se você pesquisar sobre deserto no Marrocos, vai se deparar com alguns nomes: Agafay, Zagora, Chigaga… Mas se o seu sonho envolve dunas altíssimas, areia dourada e um pôr do sol de tirar o fôlego, o nome que você deve gravar é Merzouga.

Não é qualquer deserto: é o Erg Chebbi

Merzouga está na beira do Erg Chebbi, uma área de dunas gigantes que são tudo aquilo que você imagina quando pensa no Saara. Algumas chegam a 150 metros de altura! É diferente de outras regiões desérticas do Marrocos, como o Agafay (que fica pertinho de Marrakech), onde o terreno é rochoso e sem dunas — ou seja, tecnicamente um deserto, mas com cara de pedreira.

Já no Erg Chebbi, é areia por todos os lados. Daquelas que entram no tênis, no cabelo, na mochila… e que deixam as fotos com um ar épico. O visual realmente impressiona: as dunas mudam de cor ao longo do dia, ganham tons dourados, alaranjados e até avermelhados conforme o sol vai se movimentando.

deserto marrocos
Deserto de Erg Chebbi com novo grupo de turistas chegando de camelo

Infraestrutura que respeita o viajante (e a cultura local)

Merzouga também é uma das regiões do Saara marroquino com melhor infraestrutura para turismo — e ainda assim sem perder o ar rústico e autêntico. Há acampamentos para todos os gostos e bolsos, desde os mais simples até os que oferecem camas confortáveis, banheiro privativo, jantar completo e alguns até possuem wi-fi (ok, wi-fi que às vezes funciona e às vezes finge que está ali só de enfeite).

acampamento deserto Merzouga marrocos
Acampamento no deserto de Merzouga que ficamos

Além disso, é uma região onde a cultura berbere é muito presente e viva. Os guias, camelôs, músicos e anfitriões dos acampamentos são, na maioria, descendentes de povos nômades que vivem há séculos na região. E isso faz toda a diferença. Eles não estão ali apenas oferecendo um serviço, mas te recebendo na casa deles — ou melhor, nas areias deles.

tour deserto marrocos
Vila berbere, a frente vila antiga (abandonada) e ao fundo vila nova

Tipos de tour a Merzouga: 2, 3 ou 4 dias?

Agora que você já sabe por que Merzouga é o lugar ideal para realizar seu sonho desértico, vem a pergunta prática: quantos dias são necessários para viver essa experiência? A resposta depende do seu tempo, do seu orçamento e do seu grau de disposição para longas horas na estrada. Mas não se preocupe, vou te explicar as diferenças entre os principais tipos de tour disponíveis.

Tour de 2 dias e 1 noite – a versão expressa

Essa é a opção mais enxuta — e também a mais corrida. O roteiro costuma sair e voltar de Fez, com apenas uma noite no deserto. Curiosamente, o tempo efetivo nas dunas é praticamente o mesmo dos tours mais longos: você chega no fim da tarde, assiste ao pôr do sol, janta, dorme e vai embora depois do nascer do sol.

O problema está no resto do caminho. Como há pouco tempo disponível, as paradas nas atrações do trajeto são rápidas ou simplesmente cortadas. E como o deslocamento é longo, você passa a maior parte do tempo na estrada. Ou seja: é um tour para quem tem pouco tempo, mas ainda assim não quer deixar de viver a experiência no deserto.

Veja aqui mais sobre o tour de 2 dias saindo de Fez. Esse tour saindo de Marrakech não é muito comum, porque a cidade fica mais longe de Merzouga, entretanto há uma opção de tour de 2 dias saindo de Marrakech e chegando em Fez.

camelo marrocos
Berbere arrumando os camelo para levar os turistas para o acampamento em Merzouga

Tour de 3 dias e 2 noites – o mais equilibrado

Esse foi o tour que eu escolhi — e, sinceramente, achei o formato ideal. Não à toa, é o mais popular entre os viajantes. Ele permite viver o melhor do deserto com tempo suficiente para aproveitar também os atrativos do caminho.

O roteiro varia um pouco dependendo de onde começa e termina, mas geralmente inclui paradas em lugares como as Gargantas do Todra, a Kasbah Aït Ben Haddou, a Kasbah Taourirt e, em alguns casos, o Atlas Studios, um estúdio de cinema onde foram filmadas produções como “Gladiador” e “Game of Thrones”.

O preço do tour costuma variar mais pelo tipo de acampamento escolhido do que pelo roteiro em si. Os acampamentos padrão (standard) têm tendas mais simples, muitas vezes sem banheiro privativo. Já os acampamentos de luxo oferecem tendas maiores, banheiro dentro do quarto, colchões mais confortáveis e refeições de melhor qualidade. Ou seja, a diferença é mais no conforto do que na essência da experiência. Mesmo assim, eu aconselho a pegar a versão luxo, caso você possa pagar, para ter uma tenda e um jantar melhor no deserto.

camelo deserto marrocos
O berbere que conduz os camelos faz fotos dos turistas

Tour 3 dias saindo e voltando por Marrakech

Essa é a versão mais procurada por quem se hospeda apenas em Marrakech. No primeiro dia, o grupo segue até Ouarzazate, com paradas pelo caminho, e passa a noite lá. No segundo dia, segue até Merzouga, onde acontece a tão esperada noite no deserto. Já o terceiro dia é o mais puxado: todo o trajeto de volta a Marrakech é feito de uma vez só.

Você encontra boas opções desse tour, muito bem avaliados, tanto pela Civitatis quanto pelo Get Your Guide.

Tour 3 dias de Marrakesh a Fez

Para quem está planejando se deslocar entre as cidades, esse tipo de tour resolve duas questões de uma vez: você vive a experiência do deserto e ainda se desloca para Fez (ou vice-versa), sem precisar encarar ônibus ou voos internos. Uma observação importante, é a possibilidade de achar voos internos no Marrocos com ótimos preços comprando com antecedência.

O trajeto é praticamente o mesmo do tour de ida e volta por Marrakech, com a diferença de que, no terceiro dia, em vez de retornar para o sul, você segue viagem para o norte, em direção a Fez.

Para esse tour você também encontra boas opções, bem avaliados, tanto pela Civitatis quanto pelo Get Your Guide.

deserto Merzouga
Pôr do sol no deserto Erg Chebbi em Merzouga

Tour 3 dias de Fez a Marrakech

Esse foi o meu roteiro, e aqui vai uma curiosidade: a noite no deserto acontece logo no primeiro dia. Isso tem seus prós e contras.

Por um lado, você já começa pela melhor parte — as dunas, o pôr do sol, o acampamento, a música berbere. Por outro, os dois dias seguintes parecem perder um pouco do brilho, já que o grande clímax veio logo no início. Ainda assim, achei que o roteiro teve um bom ritmo. Outro ponto positivo é que o primeiro dia concentra as horas mais longas de estrada — o que é ótimo, já que você ainda está animado. O terceiro dia, por sua vez, é o mais leve e com menos quilometragem.

Veja aqui valores do tour 3 dias de Fez a Marrakech.

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Estrada cheia de curvas pelo Atlas entre Marrakech e Ouarzazate

Tour de 4 dias e 3 noites – para quem quer mais

Existe também a opção de fazer o tour com quatro dias de duração. Em teoria, parece ótimo: mais tempo no deserto, mais experiências, mais calma. Na prática, é um roteiro que costuma ser apenas uma extensão do tour de 3 dias, com uma noite extra em um hotel de Merzouga — não no acampamento nas dunas.

Ou seja, a noite no deserto continua sendo apenas uma. O dia extra é aproveitado num hotel próximo das dunas, onde você pode descansar ou contratar atividades opcionais, como passeio de quadriciclo, caminhada guiada ou visita a vilarejos locais. Funciona bem para quem quer desacelerar, mas pode deixar a sensação de que o tour perdeu o ritmo. É importante alinhar expectativas: não espere duas noites sob as estrelas.

Pela internet você vai encontrar apenas o tour de 4 dias saindo e voltando de Marrakech.

Acampamento em Merzouga visto da estrada com deserto ao fundo
Acampamento em Merzouga visto da estrada

Paradas imperdíveis no caminho até o deserto

O tour até Merzouga não é só estrada e deserto. Pelo contrário! O caminho entre as grandes cidades do Marrocos e o Saara é recheado de paradas incríveis que, sozinhas, já valeriam a viagem. E são essas paradas que fazem o tour de 3 ou 4 dias ser muito mais interessante do que apenas um bate-volta apressado. A seguir, listei os principais pontos por onde a maioria dos roteiros passa — e que fizeram parte do meu também.

Ifrane – A Suíça marroquina

ifrane
Ifrane, a Suíça do Marrocos chega a nevar no inverno – Foto: Wikipédia (CC BY)

Sim, o Marrocos tem sua própria “Suíça” — ela não chega a surpreender, mas não deixa de ser bonitinha. Ifrane é uma cidade de montanha, limpa, organizada e com arquitetura completamente diferente do resto do país. Casinhas com telhado inclinado, ruas arborizadas e até pistas de esqui no inverno! Parece que você saiu do Marrocos e foi parar nos Alpes.

Essa parada é apenas para quem começa ou termina o tour em Fez. Quando passamos por lá estava bem frio (foi o início do tour), o que já deu contraste imediato com o calor que encontramos no deserto no fim do dia. Prepare a jaqueta!

Floresta de cedros e macacos no caminho

Floresta macacos marrocos
Os macacos já estão acostumados a lidar com humanos

Próximo de Ifrane, muitos tours param em uma área de floresta de cedros, onde vivem macacos selvagens — mas bem acostumados com turistas. É aquele tipo de parada rápida para esticar as pernas, tirar fotos e, com sorte, ver os macacos bem de perto (e torcer para que eles não roubem nada da sua bolsa).

Ali também costuma ter moradores locais oferecendo amendoins ainda na casca para você alimentar os macacos. Eles não cobram diretamente, mas pedem uma gorjeta, por isso é importante ter dinheiro trocado.

Vale do Ziz – Verde no meio do nada

Vila berbere marrocos
Oásis com floresta de tâmaras na região desértica do sul do Marrocos

Ao longo do trajeto, cruzamos um dos palmeirais mais bonitos do país: o Vale do Ziz. São milhares de palmeiras enfileiradas ao longo de um rio, contrastando com as montanhas áridas ao redor.

Gargantas do Todra – O cânion cinematográfico

Gargantas do Todra
Cânion da Gargantas do Todra

No segundo dia do tour (pelo menos no meu roteiro), fizemos uma parada nas Gargantas do Todra. É um cânion com paredes verticais que chegam a mais de 150 metros de altura, com um riacho passando no meio e casinhas de barro nas redondezas. O lugar não tem nada de muito impressionante, mas vale para uma caminhada curta no meio do trajeto.

Kasbah Taourirt – História e barro em Ouarzazate

Kasbah Taourirt
Kasbah Taourirt em Ouarzazate

Essa é uma parada em Ouarzazate, cidade que serve de base para muitas produções de cinema. A Kasbah Taourirt é uma antiga fortaleza de barro e palha que já foi residência de um dos líderes tribais mais poderosos do sul do Marrocos. A arquitetura é linda e cheia de passagens internas e pátios, com detalhes que mostram o estilo tradicional da construção berbere.

No meu tour, infelizmente, não tivemos tempo de entrar — a parada foi apenas para fotos do lado de fora — mas confesso que fiquei com vontade.

Atlas Studios – O Marrocos no cinema

Atlas Studios
Cenário de templo egípcio no Atlas Studios

Quem gosta de cinema pode se divertir com essa parada: o Atlas Studios, um dos maiores estúdios de filmagem a céu aberto do mundo. Já foram gravados ali filmes como Gladiador, A Múmia, Babel e até cenas de Game of Thrones.

A visita guiada leva cerca de 40 minutos e mostra sets de filmagem gigantes, que recriam cenários antigos como templos egípcios, palácios chineses e cidades bíblicas. Nem todos os tours param nesse ponto, já escutei relatos de que o motorista diz que não tem tempo, então corta essa parada.

Kasbah Aït Ben Haddou – A estrela do roteiro

Kasbah Ait Ben Haddou
Kasbah Ait Ben Haddou onde foi gravado vários filmes e séries

Deixei a mais famosa para o final. A Kasbah Aït Ben Haddou é Patrimônio Mundial da UNESCO e cenário de dezenas de filmes. É, sem dúvida, uma das paradas mais bonitas e fotogênicas do tour. A fortaleza de barro fica num vale, com pequenas escadarias e ruas estreitas que levam até o topo, de onde se tem uma vista panorâmica incrível.

Você provavelmente já viu essa paisagem em algum lugar — mesmo que não lembre. É lá que foram filmadas cenas de Game of Thrones (a cidade de Yunkai), O Gladiador, Príncipe da Pérsia e tantos outros. A subida é fácil e passando pelos becos e lojas, você nem percebe o esforço.

deserto marrakech
caminho para Kasbah Ait Ben Haddou

Curiosamente, a kasbah é muito mais impressionante vista de fora — com aquele visual monumental que parece moldado à mão pelo tempo — do que por dentro, onde boa parte das construções está vazia ou com lojas muito coloridas que não combinam com o cenário. Ainda assim, não há quem resista a entrar, explorar os becos e imaginar como era a vida ali séculos atrás.

Essas são, em geral, as principais paradas dos tours para Merzouga. Algumas empresas mudam a ordem ou o tempo em cada lugar, mas o roteiro costuma seguir esse padrão. E acredite: essas pausas no caminho não são só quebra de viagem — são parte essencial da experiência. Afinal, no Marrocos, a jornada é tão rica quanto o destino.

A noite no deserto: mais do que mil estrelas

A grande estrela do tour para Merzouga, sem trocadilhos, é passar a noite no meio do Saara. E acredite: por mais que você leia relatos, veja fotos ou vídeos, nada prepara totalmente para a experiência de estar ali, no silêncio das dunas, com o céu mais estrelado que você provavelmente já viu na vida.

No meu caso, a noite no deserto aconteceu logo no primeiro dia do tour, então tudo ainda era novidade — o calor, os camelos, o vento, o cenário alaranjado… e até a logística inusitada.

A chegada: camelos, lenços e boas-vindas

Antes mesmo de subir no camelo, o grupo parou numa área nos arredores de Merzouga, onde várias vans de diferentes agências que estão indo para o mesmo acampamento se encontraram. A espera foi até todo mundo chegar, já que as caravanas saem juntas. Cada berbere guia um pequeno grupo de camelos, geralmente entre 4 a 6.

Ali, os guias ajudam a amarrar os lenços na cabeça dos turistas, um verdadeiro ritual. Se você não comprou o seu lenço, a van pára em uma loja “estrategicamente isolada”, antes de chegar em Merzouga — com preços bem mais altos. Dica de ouro? Compre seu lenço em Fez ou Marrakech, onde é mais barato e há mais opções. No meu caso, levei um lenço beduíno, que comprei no Egito ou Jordânia que era mais grosso e menor que os tradicionais berberes. Os guias até tentaram improvisar, mas não era o ideal.

tour Merzouga
Panos enrolados no rosto para o trajeto de camelo no deserto

Primeiro ele levanta as patas traseiras, o que te joga pra frente; depois levanta as dianteiras, e você é jogado pra trás. É um verdadeiro tranco em duas etapas, como se estivesse em um simulador de montanha-russa movido a camelo. Mas depois que ele se estabiliza. Só que tem um detalhe que ninguém costuma contar: quem não está acostumado a andar a cavalo sente — e como sente — o impacto de ficar quase uma hora sobre um camelo. No nosso caso, as nádegas e as virilhas ficaram doendo no final do trajeto. O ritmo do animal vai batendo, literalmente, e o corpo vai sentindo.

O trajeto durou cerca de 50 minutos, com uma parada no alto de uma duna para ver o pôr do sol e tirar fotos. Esse é o melhor momento para fotografar no deserto, quando a luz do fim da tarde transforma a paisagem: as dunas ficam com um tom alaranjado vibrante lindo.

Erg Chebbi
No final do dia as dunas ganham um tom alaranjado muito bonito
saara marrocos

Como você não estará com a mala nem com a mochila nesse momento — elas vão de carro até o acampamento — já vá vestido com a roupa que quer usar nas fotos. Não é frescura: com aquele cenário surreal ao fundo, vale caprichar. Cores como branco e vermelho contrastam lindamente com o dourado da areia e deixam as fotos ainda mais impactantes. Essa é a hora mágica do deserto — e da sua galeria de viagem.

O acampamento: conforto no meio do nada

Os acampamentos em que ficamos estava localizado em uma área de solo mais firme e pedregoso, fora das dunas altas. Para minha surpresa, havia vários acampamentos lado a lado, uma espécie de “bairro desértico” de tendas. Os acampamentos não ficam tão ao meio do deserto, mas é em uma parte que não se vê a cidade.

Ao chegar, fomos recebidos com chá de hortelã e amendoins — já um ritual marroquino de boas-vindas. Mas nem tudo saiu como o esperado: havia mais pessoas do que tendas disponíveis, e eles foram olhando para a cara das pessoas e escolhendo onde cada um iria ficar. Dois casais teriam que ser realocados para o acampamento vizinho. E adivinha quem ia ser um deles? Sim, nós. Eles perguntaram se estava ok e nós falamos que não, reclamamos do critério parcial e expliquei que era jornalista e que estava ali para escrever sobre a viagem… e pronto: nos colocaram em uma tenda dentro do acampamento principal.

tenda deserto Erg Chebbi
Acampamento ao entardecer

Mas essa situação também me mostrou como é importante ter cuidado ao escolher onde reservar os passeios. A minha reserva foi feita em uma pequena agência de turismo já no Marrocos, e acredito que, se tivesse feito por uma plataforma reconhecida na internet, a chance disso acontecer seria menor.

Por isso, recomendo reservar com antecedência por sites confiáveis, como a Civitatis ou a Get Your Guide. Ambas as plataformas têm tours bem avaliados para Merzouga, e o ideal é sempre olhar as notas e os comentários antes de fechar. Assim, você viaja com mais segurança e evita imprevistos como esse.

Voltando a falar do acampamento, a tenda era bastante confortável: espaçosa, com camas para quatro pessoas, banheiro privativo com vaso sanitário, pia e até chuveiro. O piso era cimentado e as paredes eram feitas de tecido reforçado com tramas vegetais, como se fosse um bambu entrelaçado. Tinha toalhas, amenidades e, apesar da areia inevitável que entra com o vento, tudo parecia limpo e bem cuidado.

tenda deserto Merzouga
A tenda no deserto “estilo luxo” é espaçosa e confortável
tour 2 dias Merzouga
Banheiro da tenda, com vaso, pia e chuveiro

O jantar e a música: uma noite para lembrar

O jantar foi servido no estilo buffet, com várias opções: tajine de frango, tajine de kafta, batatas cozidas, lentilhas, macarrão, salada e frutas frescas (melancia e melão) de sobremesa. A água estava incluída, mas as outras bebidas eram cobradas à parte. As mesas eram grandes e compartilhadas, o que cria um clima de socialização entre os viajantes.

Depois do jantar, começou a apresentação musical. Sete berberes tocaram instrumentos de percussão, cantando músicas tradicionais ao redor de uma fogueira. A energia da apresentação foi contagiante, e logo começaram a chamar os turistas para dançar. A música durou uns 20 a 30 minutos, e depois disso eles deixaram os instrumentos disponíveis para quem quisesse experimentar.

noite no deserto marrocos
Apresentação musical berbere no acampamento

A tempestade de areia: nem tudo são estrelas

Quando estávamos voltando para a nossa tenda, a noite ganhou um tom épico — e um pouco tenso: começou uma tempestade de areia. O vento ficou forte, os grãos batiam no rosto e nos olhos, e chegar até a tenda foi uma verdadeira missão. Tivemos que tapar os olhos e lutar contra o vento para conseguir caminhar. Abrir a porta já foi difícil, mas fechar foi ainda pior. Eu e minha esposa tivemos que segurar juntos para conseguir puxar a porta para o ponto onde ela seria fechada. E mesmo com tudo bem fechado, a areia entrou. E o barulho também: os panos batendo, as paredes trançadas rangendo com o vento. Resultado? Não conseguimos dormir. E não fomos os únicos: uma espanhola comentou no café da manhã que passou a noite em claro com medo da tenda voar. rsrsrs

Amanhecer no deserto: frio, beleza e dor na bunda

Às 6h da manhã, foi servido o café da manhã — muito melhor do que o de vários hotéis por onde passamos. O destaque vai para o omelete berbere, feito com molho de tomate e muito sabor. Café, chá, pães, manteiga, geleia e frutas completavam a refeição.

Logo depois, subimos uma pequena duna ao lado da tenda restaurante para assistir ao nascer do sol. A luz subindo lentamente e pintando a areia de dourado é legal. Mas confesso: o pôr do sol me impressionou bem mais. Talvez porque naquele momento estávamos no meio das dunas, em um cenário muito mais cinematográfico, com aquele visual ondulado a perder de vista. A luz da tarde também é mais quente, intensa, e deixa tudo com aquele tom alaranjado típico do Saara que a gente sonha em ver.

passeio deserto marrocos
Na hora do sol nascer é muito frio no deserto, diferente do pôr do sol que ainda é quente

Um detalhe importante é com relação a temperatura, de manhã estava bastante frio. No final da tarde e começo da noite não estava frio, mas de madrugada e no começo da manhã fazem frio no deserto.

A volta ao ponto de partida também foi feita de camelo, sem paradas. E aqui entra um detalhe: depois da cavalgada da véspera, a bunda dói. Havia a opção de ir ou de voltar de carro por €10 euros por pessoa (2025), mas preferimos encarar o caminho no estilo tradicional como todo mundo fez. Também era possível fazer o trajeto de quadriciclo por €40 euros (uma pessoa) ou 60 (duas). Mas como estava muito frio, só quem já tinha reservado com antecedência teve coragem.

tour 3 dias Merzouga
Na ida no camelo camisa e bermuda, na volta jaqueta com capuz devido ao frio

Check-list final: o que levar na mala de mão do deserto

Uma das coisas que você precisa ter em mente é que, ao chegar em Merzouga, as malas grandes normalmente ficam na van ou em algum hotel base da agência — e só uma mochila ou bolsa pequena vai com você até o acampamento nas dunas. No meu caso, todas as malas foram levadas de carro até o acampamento, o que foi ótimo, mas essa não é a regra, então é melhor se preparar como se fosse passar uma noite com o mínimo necessário.

Aqui vai um checklist do que não pode faltar:

Roupas e acessórios

  • Roupas leves e respiráveis para usar durante o dia (lembrando que o calor é seco)
  • Casaco ou jaqueta corta-vento para o início da manhã e a madrugada (mesmo no verão, esfria de madrugada!)
  • Segunda pele térmica (blusa e calça) – principalmente útil nos meses mais frios ou para quem sente mais frio. À noite, a temperatura pode cair bastante, e a segunda pele ajuda a manter o calor do corpo
  • Lenço berbere (cheche) ou outro para proteger a cabeça e o rosto do sol e da areia — já compre antes, se possível
  • Óculos de sol
  • Chapéu ou boné (se não for usar o lenço)
  • Roupa “boa” para fotos ao pôr do sol – pense nas cores: branco, vermelho e tons terrosos ficam boas nas dunas, sendo que a melhor é o branco. É a cor que você mais vai ver no Instagram.
  • Calçado fechado e confortável (nada de chinelo no deserto!)
  • Uma troca de roupa para dormir (especialmente se for inverno)

Itens de higiene e proteção

  • Protetor solar e hidratante labial
  • Escova e pasta de dente

Equipamentos e eletrônicos

  • Lanterna de cabeça ou de mão – ajuda MUITO à noite no acampamento
  • Carregador portátil (power bank) – o acampamento pode não ter tomada disponível em todas as tendas
  • Celular/câmera carregado

Extras importantes

  • Dinheiro em espécie (dirhams) – para gorjetas, bebidas extras e eventuais passeios
  • Passaporte (ou uma cópia) – é bom ter com você, mesmo que ninguém peça
  • Remédios básicos (para dor de cabeça, enjoo ou dor muscular pós-camelo)

Dica bônus: se tiver espaço, leve um lenço ou toalhinha dobrada para usar como “almofada” no camelo. A sela é mais dura do que parece e, se o trajeto for longo, você vai agradecer esse cuidado com suas nádegas.

Seguro Viagem

E aproveitando o embalo, aí vai mais uma dica essencial: contrate um seguro viagem. Pode parecer um detalhe dispensável, mas não é. Imprevistos acontecem — seja durante o tour no deserto, nas cidades, no deslocamento entre regiões ou até com sua bagagem. Com o seguro, você viaja muito mais tranquilo, sabendo que terá assistência médica, reembolso e apoio em situações inesperadas. E o melhor: o custo é baixo perto do gasto total da viagem e do benefício e da paz de espírito que oferece. Faça uma cotação.

Felipe Zig
Felipe Zighttps://www.abraceomundo.com/
Felipe Zig é jornalista, fotógrafo e apaixonado por viajar. Depois de conhecer mais de 20 países, decidiu criar o blog “Abrace o Mundo” para dar dicas de viagens e incentivar outras pessoas a viajar.

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